sexta-feira, 26 de março de 2010

Garimpo de Belo Horizonte (Hamilton)

Construída para ser a capital política e administrativa do estado de Minas Gerais, Belo Horizonte se desenvolveu de tal modo que os limites estabelecidos durante o seu planejamento não acomodaram seu acelerado crescimento. Hoje em dia, trata-se de uma grande metrópole, sem fronteiras definidas e bastante descentralizada.

Belo Horizonte pode ser considerada utópica, pois foi criada do zero, no papel. Hoje sua utopia está principalmente nas praças. Exemplo perfeito é a principal delas, a Praça da Liberdade. Nela, além do lugar físico, há todo um sentimento e uma idéia ligada. A praça representa uma fuga do espaço construído da cidade. Alem disso, numa cidade de tantas desigualdades, o espaço verde serve como um lugar de interação entre diversas pessoas, não importando sua condição econômica. Um pedestre na praça nada mais é que um pedestre. Outra interessante utopia é o remetimento ao passado ao andar no local. A praça e seus elementos nos lembram de tempos passados, quando todos saiam para caminhar na praça e encontrar os outros (fazendo a praça também parecer um pedacinho do interior).


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Não diferente das demais cidades do mundo, a capital mineira apresenta tanto espaços topofílicos, quanto espaços topofóbicos. A própria Praça da Liberdade é um bom exemplo de espaço topofílico em BH. Todos esses sentimentos pela praça fazem com que nos sintamos à vontade nela. Sempre que passamos por perto é difícil de resistir à vontade de entrar nela e aproveitar tudo que ela nos proporciona. Tal efeito faz com que o local tão presente na identidade belo horizontina sempre atraia grande parte da população, criando um ponto de encontro do povo. Outros grandes atrativos que trazem as pessoas a ela são sua beleza, tanto natural, quanto construída, e o que ela tem a oferecer em suas imediações: bibliotecas, museus e áreas de descanso, sendo uma centralidade prática para seus transeuntes.

A praça da liberdade não é regra quando se fala de sua interação com as pessoas. Existem diversas praças que acabam exercendo o efeito contrário do esperado, ao invés de ser um espaço agradável para todos acaba caindo em desuso (ao menos) aparentemente.

A Praça Raul Soares, por exemplo, com a deteriorização do hipercentro, sofreu com o abandono pela população, pois não havia boa manutenção de sua área, tornando-a menos atrativa que outras áreas oferecidas ao público. A praça vazia foi, por sua vez, ocupada por usuários de drogas e criminosos, que fizeram com que o lugar se tornasse perigoso e ainda menos chamativo à população. O ciclo vicioso resultou em evasão e repulsão do espaço e fuga dos arredores.

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O problema foi localizado e identificado e depois estudado por equipes de profissionais. A praça foi restaurada para se assemelhar ao seu projeto inicial. Foi iluminada e integrada à cidade, devolvendo ao espaço o seu uso primitivo, mais agradável para a capital e os seus habitantes. Tal exemplo mostra que a intervenção dos arquitetos tem papel chave para modificar o espaço urbano, afetando positivamente a vida da cidade.

Mas nem todos os problemas foram solucionados, pois é preciso intervir em vários lugares. Um deles e o Morro das Pedras, localizado na zona oeste da cidade e que, por ser considerado um dos seis locais mais violentos da capital, precisa de uma atenção especial da prefeitura.

A cidade foi planejada para crescer dentro da Avenida do Contorno. Seriam quarteirões bem definidos, formando uma malha que lembra um tabuleiro de xadrez. Esse planejamento revelava claramente a isotopia da planta de BH. Entretanto, como dito anteriormente, a cidade cresceu em ritmo acelerado, e passou a não respeitar a planejada isotopia. Foram surgindo bairros e aglomerados com as mais diversas características. Bairros residenciais começaram a se “fundir” com bairros comerciais, aglomerados de casas passaram a dividir espaços com edifícios cada vez maiores e, assim, a heterotopia começou a se implantar na capital.

Entretanto, essa heterotopia não ocorre apenas no panorama geral. Há espaços mais específicos, tais como a Praça da Savassi, que se destacam pela diversidade de atividades e freqüentadores. O local concentra empresas de telecomunicações, bares, fast foods, lojas de roupas e etc., além de receber pessoas de diferentes tribos e classes sociais.

O mesmo pode ser dito a respeito da isotopia na cidade. Um bom exemplo é o bairro Cidade Jardim, um dos poucos a apresentarem predominância de casas e ainda não verticalizado, o que é um padrão no bairro.

Belo Horizonte está repleta de vias que integram suas regiões entre si e com cidades vizinhas. Milhares de pessoas deslocam-se diariamente por esses caminhos. Para eles, as avenidas e ruas pelas quais passam não possuem significados importantes. Por isso, são considerados espaços neutros. O Complexo da Lagoinha, por exemplo, pode ser assim classificado. Ele é um conjunto de elevados que une o centro da cidade ao norte e leste da capital. Apesar de estar presente no cotidiano de muita gente, não desperta nenhum sentimento de proximidade nessas pessoas.

Um fato interessante da capital mineira é a mudança de significado de seus espaços. Em certos casos, isso ocorre periodicamente. A Afonso Pena, a principal avenida da cidade, é interditada aos domingos para que ocorra uma grande feira. O fluxo de a
utomóveis é temporariamente substituído pela atividade comercial. No caso do Shopping Popular Oiapoque, a transição foi permanente. Servia de lar informal para desabrigados, os quais foram retirados de lá para que o local servisse a um novo propósito, que é o atual.

A cidade é um espaço diversificado que possui vários elementos marcantes. A diferença cultural entre habitantes de bairros diferentes é um deles. O tipo de ocupação e uso do espaço é particular a cada local, o que, de certa forma, gera os limites políticos entre regiões. Porém, observa-se que os costumes estão ligados ao grau de convivência entre as pessoas. Sendo assim, já que as pessoas da cidade se relacionam umas com as outras e também com populações vizinhas, questiona-se onde seria a fronteira geográfica de Belo Horizonte com seus arredores. Teoricamente ela está bem determinada, mas na prática, não existe. Além do processo de conurbação que formou a região metropolitana, há tanta rapidez no transporte que a área de influencia da capital extende-se ainda mais.

André Motta
Pedro Henrique
Renata Lafetá

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