A vitalidade das ruas foi perdida há muito tempo. A escritora urbanista Janes Jacob já debatia o tema algumas décadas atrás. De acordo com ela, uma área em que há predominância de servicos e poucas unidades de habitação pode ter um certo movimento durante o dia, mas nos horários em que o comércio está fechado as ruas se tornam desérticas e abandonadas. O mesmo acontece de forma revertida em bairros exclusivamente residenciais, onde durante os horários que precedem e sucedem a jornada de trabalho podem ter vitalidade, mas durante esse período permanece praticamente em repouso.
A autora do livro "Morte e Vida de Grandes Cidades" demonstra que para ter muito movimento durante todas as horas a fim de trazer mais vida a cidade são necessários uma série de fatores. O equilíbrio entre habitações e serviços faz com que enquanto os moradores não habitam efetivamente sua área, estranhos que usufruem dos serviços ocupem essa lacuna. Além disso, o espaço oferecido deve prover uma ampla gama de possibilidades de apropriação para os usuários, pois se estes "ocupantes" não se sentirem á vontade com o espaço público, a tendência é de se evitar estes locais.
No caso do abandono das ruas por parte da população, entramos num círculo vicioso, pois a ausência popular abre espaço para atividades ilícitas e criminosas, que tendem a espantar ainda mais as pessoas, fechando assim o círculo.
Constatando que Belo Horizonte vem cada vez mais setorizando suas áreas e consequentemente vem sofrendo pela falta de vida, propusemos junto à aula de oficina a ocupação das ruas (mais especificamente das vagas de carro) de modo a trazer as pessoas de volta para a rua e resgatar esse valor. O nosso plano foi recriar algo que nos remetesse às já extintas várzeas de bairro, local de aglomeração e socialização das pessoas. Entretanto não podíamos "engessar" e tornar o projeto muito específico pois desse modo as pessoas só poderiam usá-lo de uma maneira, restringindo o seu uso.
O arquiteto Herman Hertzberger aborda o tema da espeficidade em seu livro "Lições de Arquitetura", de acordo com ele, é importante que uma intervenção desempenhe diversos papéis sobre diferentes circunstâncias, por exemplo: colunas que tem uma base grande o bastante para sentar costumam estar mais cheias de pessoas do que meras colunas que simplesmente acabam no chão
Pensando nestes aspectos, ao desenvolver nossa arquitetura efêmera tivemos que pensar nas mais diversas possibilidades de uso para tentar deixar nosso projeto mais aberto para apropriações. Ao fim da nossa intervenção tinhamos uma mini vaga de carro gramada com bancos que também serviam de gol e uma superfície que marcava o meio de campo que poderia também ser usada de mesa ou outras ciosas pelos pedestres.
Embora não tivemos tempo o suficiente para trazer a vida de volta à cidade, cegamos perto disso, pois instigamos as pessoas a refletir sobre a atual ocupação das ruas e calçadas. Caso isso fosse mais discutido, talvez pudessemos ter mais interações em nossas ruas, calçadas e bairros.